Sempre que surge uma crise, toda a sociedade, como empresas e poder público, preocupa-se e começa a elaborar medidas para não ser muito afetada.
No caso das Organizações do Terceiro Setor, o sentimento vai muito além da preocupação, e passa a ser mesmo de sobrevivência. Ligadas economicamente ao recebimento de recursos das empresas como uma de suas fontes de recursos, principalmente advindos de incentivos fiscais, logo se avizinha um período de diminuição de repasses. Se o mercado vai mal, isso significa que: menor produção igual a menos venda e, consequentemente, menos impostos a serem pagos. Isso afeta as organizações que atuam em todas as áreas: educação, cultura, esportes, meio ambiente, assistência social, entre outras.
Por sua vez, o poder público também é afetado pelas mudanças no mercado, pela escassez de recursos, e o repasse às instituições no apoio a programas e projetos também é, de alguma forma, atingido.
Se continuarmos nossa reflexão, a crise gera menor consumo, que, por sua vez, gera desemprego e deixa ainda mais vulneráveis as famílias. Para o Terceiro Setor, isso significa maior demanda de atendimento, embora a fonte de recursos, a essa altura, esteja muito menor. Seria como visualizar um gráfico com um dos indicadores subindo (maior número de pessoas necessitando de atendimento) e o outro em queda, ou seja, a entrada de recursos.
A situação não poderia ser mais complexa. Muitos dirão: mas essa situação é recorrente, as organizações já estão acostumadas. Não é bem assim, porque ainda não aprendemos a fazer mágica, embora tenhamos a expertise de otimização no uso de recursos, fazendo sempre muito e melhor, com menos dinheiro.
O Instituto Ramacrisna apresenta outro olhar para essa situação. O fundador, Prof. Arlindo Corrêa da Silva, viveu intensamente esse drama. Muitas crianças (centenas delas) e pouco recurso. Dispensar parte das crianças, muitas sem família, para manter o mesmo padrão de atendimento às que ficarem, seria justo? Depois, tentar resgatar as que saíram para continuar o trabalho iniciado? Sendo que, nesse intervalo, muitos valores e princípios que foram trabalhados com muita dedicação pelos educadores podem ter se perdido, uma vez que as crianças ainda não estavam totalmente preparadas para voltar para um ambiente nem sempre saudável?
Com coragem, desprendimento e uma visão de futuro apurada, Prof. Arlindo criou, em 1975, a Fábrica de Telas de Arame Ramacrisna para gerar recursos para a Instituição, evitando dispensa de alunos ou piora no atendimento prestado. Hoje, a busca pela autossustentabilidade das organizações do Terceiro Setor é uma realidade. Os gestores que atuam no Terceiro Setor perceberam que, além de parcerias diversificadas, precisamos contar com uma fonte de geração de renda que, mesmo sendo afetada pela crise, continuará contribuindo para a manutenção dos projetos.
A instituição não deve gerar lucro, mas o resultado financeiro que advém de um projeto de autossustentabilidade é o capital social que irá promover o desenvolvimento sustentável de comunidades de baixa renda, que terão condições de viver com dignidade por meio de seu trabalho, criando condições de diminuir a violência nessas regiões, fortalecer os vínculos familiares, aumentar o nível de escolaridade das crianças e jovens, evitar a gravidez precoce, promover a redução do uso de drogas e todas as mazelas advindas da falta de condições de se ter uma vida produtiva.
Levantar dados sobre a nossa expertise, o que o mercado demanda, melhorar a gestão de forma a ter informações corretas, ter profissionais qualificados e com salário digno são alguns dos passos que devem ser tomados e enfrentados com coragem e determinação. Uma organização sem fins lucrativos, como o próprio nome diz, não é uma empresa, mas precisa operar utilizando ferramentas que permitam trabalhar com eficiência e eficácia, transparência em todos os níveis e muita competência, principalmente porque o recurso que usamos nos é destinado por pessoas, empresas e organizações financiadoras que acreditam na nossa capacidade de transformar o recurso em resultados positivos junto às famílias vulneráveis econômica e socialmente.
É por meio da capacitação e trabalho em equipe, da gestão de excelência, da comunicação eficiente das atividades e resultados realizados, que conseguimos o respeito e apoio das empresas e sociedade para continuarmos gerando impacto nas comunidades atendidas. Atualmente, o mercado dispõe de organizações e empresas voltadas para a melhoria da gestão do Terceiro Setor, um investimento necessário para perpetuar as ações e garantir segurança para todos os beneficiados. Esse recurso pode ser parte integrante de um projeto enviado a uma empresa parceira, que irá investir na solidificação da organização.
Os colaboradores serão, então, capacitados a desempenhar seu papel de forma consciente e comprometida, trabalhando em equipe e compartilhando com os colegas experiências, dificuldades e resultados conquistados, agindo com competência e transparência, fundamentais para o reconhecimento dos parceiros, sejam eles poder público, empresas, ou organizações financiadoras nacionais e internacionais.
Por: Solange Bottaro
Fonte: filantropia.ong