Sustentabilidade e voluntariado: o voluntário é o protagonista

Em tempos de profundas mudanças climáticas que estão trazendo enormes consequências econômicas, sociais e ambientais, é mais do que necessário repensar o modelo de produção e consumo vigente. O planeta não suporta mais o uso dos recursos naturais insustentáveis. A participação de cada cidadão em ações concretas é o caminho em direção a um modelo de desenvolvimento sustentável. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), em 2008, entraram na agenda dos voluntários. Desde a Conferência Rio+20, em 2012, ficou claro o poder de influência da sociedade civil e como o voluntariado pode ser a ferramenta de convite para a participação de todos em direção ao desenvolvimento sustentável. A chegada da Agenda 2030, com os dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), conhecidos como Objetivos Globais, foram adotados pelos líderes mundiais na Cúpula de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas em setembro de 2015. Esses objetivos globais são universais, inclusivos e sinalizam um compromisso ousado com as pessoas e com o planeta. Eles só reforçaram a importância da participação de todos para que metas e indicadores sejam alcançados.

O voluntário é o protagonista, o agente de transformação social que presta serviços de forma gratuita, sem remuneração, doando trabalho, tempo, talento, habilidades e energia. Um agente social fundamental para que esses ODS sejam alcançados, para a diminuição de desigualdades sociais e a promoção da justiça e da inclusão social; para a erradicação da pobreza, a promoção da igualdade entre gêneros e racial; a proteção ambiental e promoção das energias renováveis; e, ainda, a valorização da educação e saúde. Tudo isso aliado às sociedades pacíficas e inclusivas para que a justiça social seja colocada como meio e fim estratégico na construção dessa sociedade que queremos hoje, aqui e agora, e também deixada de legado para as gerações futuras.

Muitos dos ODS exigem mudanças de atitude e comportamento de longo prazo. Os voluntários facilitam mudanças nas mentalidades, aumentando a conscientização ou defendendo essas mudanças e inspirando outras pessoas. A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável reconhece explicitamente os grupos voluntários como partes interessadas para alcançar os 17 ODS.

Isso ficou claro após pesquisa liderada pelas Nações Unidas, que envolveu mais de 8 milhões de pessoas, e foi resumida pela ONU, no Relatório de dezembro de 2014, “The Road to Dignity by 2030”:

 “Enquanto buscamos desenvolver capacidades e ajudar a criar raízes na nova agenda, o voluntariado pode ser outro meio poderoso e transversal de implementação. O voluntariado pode ajudar a expandir e mobilizar constituintes e envolver as pessoas no planejamento nacional e na implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. E grupos de voluntários podem ajudar a localizar a agenda, fornecendo novos espaços de interação entre governos e pessoas para ações concretas e escaláveis, pois objetivo em comum: a construção de uma sociedade socialmente mais justa e igualitária.”

 Apesar da poderosa rede de colaboradores, ainda são poucos para abraçar a tarefa que está aí. Há muito por fazer.  Nem todas as metas serão atingidas; governo e sociedade civil precisam se unir para fazer o melhor nesse tempo que ainda temos. Existe também o compromisso de compartilhar os indicadores, as metas atingidas, para que se possa pensar em novas estratégias e campanhas.

Publicado recentemente, o Relatório Luz, é um documento elaborado pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 (GT Agenda 2030/GTSC A2030), que analisa a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no Brasil e mostra o que o país precisa fazer para cumprir o compromisso que assumiu junto à ONU de alcançar as metas. Na sua quinta edição, no Relatório 2021 Luz da Sociedade Civil para a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável no Brasil, é possível acompanhar cada objetivo e suas metas, as que foram alcançadas, as que estão estagnadas, as ameaçadas, e, ainda, o desafio das metas que sofreram retrocessos.

Estamos na Década da Ação, e há muito a ser feito! Temos desafios permanentes: a conquista de novos adeptos, a profissionalização dos projetos sociais, a capacitação de líderes, a renovação do interesse daqueles que já põem a mão na massa em prol do social e o fomento de caminhos alternativos, as parcerias com o poder público etc.

A ABRAPS (Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável) criou em 2015 o Manifesto 17:30: propósito maior de qualquer atividade que realizamos em nosso dia a dia. Ela deve estar alinhada a um compromisso com o desenvolvimento sustentável. O Manifesto é um convite para conhecer e aderir aos 17 ODS e verificar que é possível contribuir:

01 Erradicação da pobreza: Trabalhar para gerar riquezas, não só para as empresas onde atuamos, mas para toda a sociedade.

02 Fome zero e agricultura sustentável: Produzir fartura de alimentos com acesso e segurança alimentar para todos e evitar o desperdício.

03 Saúde e bem-estar: Contribuir para o bem-estar social e uma vida saudável para todas as pessoas.

04 Educação de qualidade: Dividir nosso conhecimento para que todos possam ter oportunidades iguais de desenvolvimento através da educação.

05 Igualdade de gênero: Atuar para que todos vivam em igualdade de condições, independentemente gênero, cor, raça, orientação sexual, religião ou cultura.

06 Água limpa e saneamento: Tratar a água como um patrimônio universal do planeta. Água é fonte de vida para todas as espécies e também para nossos negócios.

07 Energia limpa e acessível:  Dedicar muita energia para tornar mais limpa e renovável a matriz energética da produção e uso dos produtos que desenvolvemos.

08 Trabalho decente e crescimento econômico: Buscar o crescimento econômico sem impactos negativos ao meio ambiente e que gere oportunidade de trabalho decente e renda pra todos.

09 Inovação infraestrutura:  Inovar constantemente para que o sistema produtivo e econômico coexista em harmonia com a capacidade do planeta e da sociedade.

10 Redução das desigualdades: Desenvolver práticas para igualar as oportunidades de crescimento para todas as pessoas.

11 Cidades e comunidades sustentáveis: Construir lugares para a vida em grupo onde as pessoas possam encontrar a felicidade em suas vidas e com seu entorno.

12 Consumo e produção responsáveis: Criar modelos de negócios com propósito de promover a produção e consumo conscientes.

13 Ação contra a mudança global do clima: Mitigar e eliminar qualquer processo ou prática que seja responsável pelas mudanças climáticas do planeta.

14 Vida na água: Manter os oceanos vivos com processos viáveis de exploração e de não poluição.

15 Vida terrestre: Zelar pela resiliência de ecossistemas com o uso dos recursos do planeta de forma inteligente e sem desperdícios.

16 Paz, justiça e instituições eficazes: Contribuir para que exista justiça, liberdade e participação a todas as pessoas.

17 Parcerias e meios de implementação: Colaborar com todos os stakeholders, em todas as esferas, para que o desenvolvimento sustentável seja o caminho de sucesso para todos.

O voluntariado como veículo para o desenvolvimento sustentável nos aponta o caminho de que o trabalho voluntário é estratégia mundial para o desenvolvimento social. Todos os cidadãos são incentivados a refletir sobre como cada um pode fazer a sua parte. Fortalecer a cultura e a prática do voluntariado significa promover a participação cidadã. Por meio dela, cada brasileiro pode se sentir parte ativa da construção de uma nação socialmente mais justa, em um ambiente próspero e sustentável.

Por: Silvia Naccache

Fonte: filantropia.ong

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