Os desafios das empresas para inclusão de pessoas com deficiência

O Brasil encerrou sua participação nas Paralimpíadas de Paris com a melhor campanha da história do país. Além de terminar no top 5 do ranking, bateu o recorde de 72 medalhas alcançadas em 2021, em Tóquio, chegando a 89 este ano, 25 delas de ouro. 

Ao mesmo tempo em que o país se consolida como uma das maiores potência paralímpicas do mundo, cada vez mais as pessoas com deficiência têm encontrado seu espaço também no mercado de trabalho e na busca por inclusão. 

Recentemente, houve um aumento no número de pessoas com deficiência no mercado de trabalho formal no Brasil, com 545.940 pessoas registradas em janeiro de 2024, segundo dados do eSocial. A maior parte dessas contratações ocorre em empresas com mais de 100 empregados, em cumprimento à Lei de Cotas (Lei nº 8.213/91), que exige um percentual mínimo de contratações de pessoas com deficiência, dependendo do tamanho da empresa.

Escuta ativa é caminho para inclusão efetiva 

Em seu perfil nas redes sociais com mais de 20 mil seguidores, o Olhar Cotidiano, Isadora Nascimento, mulher preta e pessoa com deficiência visual, comenta sobre como cada vez mais as empresas têm sentido a necessidade de se atualizar sobre pautas relacionadas à inclusão, acessibilidade e diversidade.

“As pautas de diversidade sempre existiram, mas sinto que principalmente depois da pandemia começaram a ser mais evidenciadas. Começamos a ter mais microfone. A própria internet ajuda muito”, avalia Isadora Nascimento, que é especialista em diversidade e inclusão, palestrante, consultora de acessibilidade e advogada.

Ela ressalta que, para além do cumprimento da Lei de Cotas, as empresas também têm entendido a importância de ter um time plural, para ganhar diferentes perspectivas, novos públicos e mais lucro. Ainda assim, a realidade de oportunidades e acessos para pessoas com deficiência no Brasil continua reservando muitos desafios. 

“Eu reconheço que está melhorando, mas existem muito mais pessoas fora do mercado de trabalho do que dentro. E não basta contratar. É preciso oferecer ferramentas para que pessoas com deficiência se desenvolvam”, alerta.

Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) 2022, apenas 29,2% das pessoas com deficiência participam do mercado de trabalho, contra 66,4% das pessoas que não têm deficiência, 

Nesse sentido, o jornalista Adauto Menezes, jovem negro recém-formado em jornalismo, relata sua experiência ao estagiar em uma organização que garantiu uma escuta ativa que possibilitasse seu melhor desempenho no trabalho. 

“Eu fui convidado para conversar sobre a estrutura no entorno da empresa. Era esburacado, as calçadas horríveis, e a empresa entrou em contato com o poder público, que acionou a administração dos prédios para que as calçadas fossem consertadas, e isso aconteceu”, lembra.

Para ele, se o acesso à cidade da pessoa com deficiência não for uma preocupação, não é possível falar do acesso nas empresas. Mas o letramento dos demais funcionários, e o plano de carreira é outro ponto destacado pelo jornalista, que também é palestrante e consultor em diversidade, equidade e inclusão.

“É sobre dar oportunidade além dos cargos de entrada e estágios, mas na gerência, diretoria, e cargos de liderança. Mostra que a pessoa com deficiência não está ali só para cumprir a cota”, pondera o jornalista, que também se preocupa com o chamado Diversity Washing, quando empresas ou organizações fazem uma promoção superficial da diversidade e inclusão apenas para melhorar sua imagem pública ou atrair clientes, sem implementar mudanças efetivas.

ISP ainda não prioriza pessoas com deficiência 

De acordo com dados do último Censo GIFE, 36% dos investidores sociais respondentes não têm o público de pessoas com deficiência como prioridade ao escolher os projetos e organizações apoiadas entre as que atuam na promoção da diversidade.

Para Isadora Nascimento, parte importante do problema, é que o setor ainda encara a deficiência no lugar da incapacidade. “Falta entendimento sobre o conceito de deficiência, que muitas vezes é encarado na perspectiva de doença, do corpo que não é produtivo. Falta sermos entendidos como seres humanos capazes de contribuir. Porque se você considera aquele corpo incapaz, você não vai investir nele.”

Fonte: gife.org.br

//]]>