Finalmente, o setor sem fins lucrativos adiciona 4,27% à economia brasileira
Olá! Você tem os principais números do terceiro setor brasileiro na ponta da língua?
Para iniciar minha sequência de textos em 2024 aqui no Filantropia à Brasileira achei que seria uma boa ideia juntar alguns dos principais números do setor sem fins lucrativos do país, para facilitar a consulta e referência de qualquer pessoa que queira utilizá-los no futuro.
Além disso, um outro motivo importante é o fato de, ano passado, vários dados que temos foram atualizados, ou publicados pela primeira vez, e é sempre bom ter onde encontrá-los, com os links para as fontes originais.
E é exatamente isso que você vai encontrar nas linhas abaixo: dados, dados e mais dados. Bora para eles!
ONGs
O Brasil conta com 815.676 ONGs – ou organizações sem fins lucrativos, entidades, organizações da sociedade civil etc, como você quiser chamar.
Esse número foi atualizado pela última vez em 2021, tendo como referência o ano de 2020, e havia a expectativa de que viesse a ser atualizado novamente em 2023, o que infelizmente não aconteceu. Mas não me surpreenderá se em breve o IPEA lançar uma versão atualizada do Mapa das OSCs (já estou curiosíssimo para analisar os dados).
O número total de ONGs é a principal referência do Mapa. Ao olhar a lista completa é possível conhecer outras informações também:
Das 815 mil organizações, 660 mil são, juridicamente, associações sem fins lucrativos (80,9%);
12 mil são fundações privadas (1,5%);
E 142 mil são organizações religiosas (17,4%);
Olhando para o CNPJ das 815 mil organizações descobrimos que . Ou seja, não são ONGs independentes.
As ONGs estão uniformemente distribuídas pelo país, sendo sua quantidade, em geral, proporcional ao tamanho da população de cada Estado.
Ainda não há consenso de qual das duas referências é a mais adequada, mas a maioria das pessoas tende a utilizar o Mapa das OSCs, por ter se mantido mais atualizada e, claro, porque causa mais impacto falar que temos 815 mil ONGs ao invés de 236 mil.
Finalmente, o setor sem fins lucrativos adiciona 4,27% à economia brasileira, conforme encontrou a pesquisa A importância do Terceiro Setor para o PIB no Brasil, realizada pela FIA a pedido do Movimento por uma Cultura de Doação .
Empregos
Além de movimentar bastante a economia, o Terceiro Setor emprega muito mais que a maior parte dos demais setores da economia:
6 milhões de postos de trabalho estão alocados nas organizações sem fins lucrativos, de acordo com a pesquisa feita pela FIA citada acima.
São 2 milhões e 300 mil vínculos diretos e formais de empregos nas ONGs, como é mostrado no Mapa das ONGs. Vínculo formal é com registro CLT ou Recibo de Prestador Autônomo (RPA). E não, contratrar “PJ” não é vínculo formal de emprego e não entra nesta estatística.
A maior empregadora do país é a , com quase 45 mil funcionários, seguida – de longe – pela Casa de Saúde Santa Marcelina (14 mil) e a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein (13 mil).
80% das ONGS brasileiras não tem sequer um único empregado registrado;
Esses dois últimos dados eu encontrei analisando a planilha disponível no Mapa, e os apresentei ano passado em um texto disponível aqui.
Doações Filantrópicas
Aqui a minha vontade era olhar para a receita do setor sem fins lucrativos. Esse é inclusive o meu projeto de doutorado, que está em desenvolvimento, e um tema que me atrai bastante.
Porém, nós não temos tantos dados gerais sobre as receitas das ONGs, sabemos mais sobre as doações, por isso acabei optando por, neste bloco, priorizar o que temos sobre as doações filantrópicas, que são aquelas realizadas para gerar impacto positivo para a coletividade, e que em sua grande maioria são dirigidas às ONGs.
Doações realizadas por indivíduos em 2022 totalizaram 12 bilhões e 800 milhões de reais, conforme divulgada pelo ano passado.
As grandes empresas e grupos empresariais que são parte da doaram 147 milhões de reais em 2022, de acordo com a pesquisa .
As principais instituições da filantropia brasileira que são parte do doaram 838 milhões de reais em 2022, conforme publicado no . Essas instituições são, em sua grande maioria, corporativas, familiares ou financiadoras independentes.
Foram declarados em 2023, publicamente, 439 milhões de reais em doações, de acordo com o , iniciativa de acompanhamento realizada pela . Eu inclusive estou lá, como o último da lista.
63% das organizações brasileiras tem a doação como uma das suas fontes de receita, sendo que para 32% das ONGs brasileiras ela é a fonte mais importante, conforme a pesquisa , publicada ano passado pelo .
Um parênteses importante: quem acompanha as pesquisas BISC e Censo GIFE sabe que os números principais que eles divulgaram são outros: 4 bilhões (BISC) e 4 bilhões e 800 milhões (Censo GIFE). Essa diferença gigante com o que apresentei acima existe porque ambos os trabalhos olham para o que se convencionou chamar no Brasil de “investimento social privado”, que seria a totalidade dos recursos investidos para gerar impacto positivo na sociedade. No caso do BISC e Censo GIFE, a grande maioria dos recursos do “investimento social privado” fica dentro do próprio “investidor”, seja bancando projetos próprios ou a estrutura da organização (salários, etc), e apenas uma parcela menos representativa, quando comparada com o total do investimento social privado declarado, é revertida para a sociedade como doação. Inclusive já tratei desse tema quando teci comentários sobre o motivo das empresas não doarem no Brasil, o primeiro texto da série que iniciou este boletim no LinkedIn.
Tecnologia
A principal referência que temos no país para saber como as organizações se utilizam da tecnologia é a TIC OSFIL, já citada anteriormente. É uma pesquisa que já está em sua quarta edição, com a versão mais recente lançada ano passado, e traz alguns resultados que valem a pena serem conhecidos:
89% das organizações brasileiras usa celular; 74% usa notebook e 70% faz uso de computador de mesa;
82% das ONGs usa a internet, sendo que 81% delas usa por fibra ótica (a pesquisa é feita por telefone, por sinal);
95% das organizações que usa a internet envia e-mails, 88% mensagens instantâneas e 85% faz pesquisas online;
76% das organizações paga contas ou acessa informações bancárias online, e 47% faz recrutamento de pessoal pela rede.
22% das ONGs recebe doações online; 11% do total de organizações recebe doações por meio de plataformas ou redes sociais, 6% pelo site da instituição na internet e 4% por páginas de financiamento coletivo.
Apenas 5% das organizações sem fins lucrativos têm site, mas 71% do total tem pelo menos um perfil em redes sociais.
Receita
E se falar sobre o número das organizações, empregos, doações e tecnologia não for suficiente, seguem mais dois dados sobre as ONGs brasileiras que vale a pena a gente listar e deixar como referência, e que abordam outros aspectos das receitas delas:
Filantropia Premiável: os títulos de capitalização da modalidade filantropia premiável, que beneficia instituições sem fins lucrativos, renderam 1 bilhão e 480 milhões de reais às ONGs em 2022, de acordo com os dados fornecidos pela FenaCap – Federação Nacional de Capitalização .
Recursos Públicos: o governo federal repassou quase 13 bilhões de reais às instituições sem fins lucrativos em 2018, o último ano que consta atualizado no Mapa das OSCs.
Pronto, lista feita.
Naturalmente o que apresentei acima é um recorte dos dados que temos sobre a filantropia brasileira, de forma geral, e as instituições sem fins lucrativos, de forma mais específica.
Nem de perto são todos os dados existentes, mas são aqueles que eu, no meu recorte, achei que era interessante trazer aqui para vocês para contribuir com o fortalecimento do setor.
Sinta-se à vontade para compartilhar nos comentários outras referências que ache importante, como também me corrigir – caso perceba que eu tenha realizado algum equívoco (mas eu realmente espero que não seja o caso).
Ah, e eu quero facilitar sua vida, né? Então fiz uma tabela com o resumo dos principais dados que eu apresento acima. Pode usar à vontade.
Publicado por: Joao Paulo Vergueiro Fonte: linkedin.com
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