Diferença entre homens e mulheres no mercado de trabalho teve pequena baixa em 20 anos

Nos últimos 27 anos a diferença nas taxas de emprego entre homens e mulheres diminuiu menos de 2%.  De acordo com um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho, OIT, as mulheres ainda ganham em média 20% a menos que os homens no mundo.

Em entrevista à ONU News, o diretor do Escritório da Organização Internacional do Trabalho em Nova Iorque, Vinícius Pinheiro, apontou que o relatório não traz boas notícias. O representante disse que não há nada para se comemorar no Dia Internacional da Mulher em relação à igualdade de gênero no mercado de trabalho.

“O relatório, na verdade, traz um sinal de alerta porque nos últimos 20 anos, nas últimas duas décadas. Houve pouco progresso em relação à igualdade de gênero. Alguns indicadores importantes: a participação no mercado de trabalho. Hoje, somente 43% das mulheres participam no mercado de trabalho, enquanto este indicador para os homens é em torno de 78%. Você tem 25 pontos percentuais de diferença.  Mesmo olhando os mais jovens, sabemos que, no total, 20% dos mais jovens não estão bem trabalhando e nem estudando. Mas desse total, quase dois terços são mulheres, que estão fora do mercado de trabalho e fora da educação.”

Perda

Pinheiro destaca que são preocupantes os dados do relatório com o título “Um salto qualitativo para a igualdade de gênero: para um melhor futuro do trabalho para todos”. Eles representam uma perda para a economia e também da utilização da capacidade das mulheres em relação ao mercado laboral.

O diretor explica ainda que o estudo traça linhas de base para mensurar o progresso no setor e que a mensagem é de que este não foi promissor. O relatório também é essencial para entender as causas do problema.

Atividades Domésticas

“Uma coisa que aparece muito claramente é que a educação não é uma das causas. Porque as vezes se pensa que o nível de educação das mulheres é inferior à dos homens e por isso elas têm menos oportunidade no mercado de trabalho. Isso não é verdade. Na verdade, em muitos países as mulheres têm mais anos de estudo do que os homens, então, não é a educação que explica. Agora, um fator que é determinante, é justamente o tempo de trabalho que é dedicado à atividade não remunerada no domicílio. É o trabalho doméstico não remunerado, que é trabalho de cuidado das crianças, ou mesmo aos pais. Atualmente, 21.7% das mulheres se dedicam à economia de cuidado. Enquanto para os homens esse percentual é de 1.5%. De acordo com o relatório, se essas tendências forem mantidas, vai demorar 200 anos para que haja um nivelamento entre a participação dos homens e mulheres das atividades domésticas de uma forma mais equitativa.”

O relatório também aponta que as mulheres estão sub-representadas em termos de cargos mais altos, uma situação que mudou muito pouco nos últimos 30 anos. Menos de um terço dos gestores são mulheres, apesar de provavelmente elas serem mais instruídas do que seus colegas do sexo masculino.

De acordo com o estudo, as mães passam por uma “penalização salarial da maternidade” que se acumula em toda a sua vida profissional, enquanto os pais desfrutam de um prêmio salarial.

Mudanças

Segundo Pinheiro, o relatório destaca também que para atingir igualdade de gênero no mercado de trabalho serão necessárias mudanças em políticas e ações em uma série de setores.

“Em primeiro lugar, é importante investir em mecanismos que deem oportunidades iguais para homens e mulheres. Então, o acesso ao mercado de trabalho tem que ser facilitado para que haja uma participação maior da mulher na força de trabalho. Em segundo lugar, é fundamental investir na eliminação da violência e no assédio no mercado de trabalho. Um dos elementos que explica essa baixa participação, particularmente em alguns países, é o medo que as mulheres têm em participar na força de trabalho em funções ou em tipos de profissões que são dominadas por homens.”

Para Pinheiro, é preciso reconhecer o valor do trabalho das mulheres da mesma forma que o dos homens. Em termos do futuro do mercado laboral, este passará por mudanças devido à incorporação de novas tecnologias, mudanças climáticas e outros, o que pode aumentar os desequilíbrios em relação à igualdade de gênero.

Uma das propostas da OIT para evitar essa situação é “investir em meninas que queiram seguir carreiras científicas”.

Fonte: news.un.org

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