Crises econômica e sanitária freiam doações e ongs recebem quase 25% a menos

Segunda edição da Pesquisa Doação Brasil 2020, promovida pelo Idis, revela que volume de recursos direcionados por brasileiros caiu de R$ 13,7 bilhões, em 2015, para R$ 10,3 bilhões em 2020

A longa crise econômica, que já dura quase uma década no país, a pandemia do novo coronavírus, iniciada em março de 2020, além do cenário de incertezas para o futuro, foram responsáveis diretas pelo encolhimento do volume de doações realizadas pelos brasileiros em 2020 em relação a 2015, conforme evidenciou a 2ª Pesquisa Doação Brasil 2020, divulgada em agosto.

Promovido pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis) e aplicada pelo Instituto Ipsos, o levantamento traça um amplo perfil do doador individual brasileiro e apresenta as características das doações, frequência, beneficiários e, sobretudo, estima o montante total doado. Aborda também informações sobre os não doadores e o que poderia fazê-los mudar de postura.

Para se ter uma ideia, em 2020, os brasileiros doaram R$ 10,3 bilhões (0,14% do PIB), enquanto em 2015 esse montante foi de R$ 13,7 bilhões (0,23% do PIB) – uma retração de 24,8%. Na comparação entre esses dois períodos, o valor anual médio doado caiu de R$ 240 para R$ 200.

A pesquisa revelou ainda que a queda nas doações ocorreu em todas as suas formas – doação em dinheiro, de bens e tempo (trabalho voluntário). O encolhimento do poder aquisitivo do brasileiro acabou estourando negativamente na transferência de dinheiro para as organizações sociais.

Enquanto em 2015, mesmo em meio à crise econômica que já assolava o Brasil há alguns anos, 77% da população conseguiu realizar algum tipo de doação, em 2020 o percentual caiu para 66%. Quando se trata de doação em dinheiro, a proporção caiu de 52% para 41%. E no caso de doações para organizações/iniciativas socioambientais, houve redução de 46% para 37%.

O empobrecimento refletiu muito entre as pessoas com renda familiar de até dois salários mínimos, muitas das quais acabaram se vendo forçadas a interromper as doações. Assim, a participação dessa parcela da população caiu de 32%, em 2015, para 25%, em 2020.

Por outro lado, cresceram significativamente as doações (de 51% para 58%) entre quem possui renda familiar um pouco mais elevada (entre seis e oito salários mínimos). E de 55% para 59% entre as famílias que ganham acima de oito salários mínimos.

Com o início da pandemia da Covid-19 e o consequente fechamento da economia, as pessoas precisaram rever suas prioridades em torno das causas que apoiavam, afinal, muitos ficaram sem salário ou tiveram de sobreviver com parte dele, especialmente enquanto o governo não aprovava o auxílio emergencial.

Se em 2015 saúde e crianças ocupavam os primeiros lugares na preferência em termos de causa, em 2020 o combate à fome e à pobreza foi a mais sensibilizadora para 43% da população, seguida por crianças, saúde e idosos. Segundo a pesquisa, nos últimos cinco anos as causas de combate ao abandono e maus-tratos de animais e os moradores de rua ganharam muitos apoiadores.

Embora o volume de doações tenha caído ao longo dos anos, os brasileiros veem cada vez mais esta prática como positiva. Saltou de 81% para 91% a parcela da sociedade que acredita que o ato de doar faz diferença e é transformador. Mesmo entre os não doadores, essa concordância atinge 75%.

Já a ideia de que o doador não deve falar que faz doações vem perdendo força ao longo dos anos, caindo de 84% (2015) para 69% (2020) da população. Ao difundir esta prática, conforme sempre defenderam gestores e especialistas do Terceiro Setor, acaba-se despertando o interesse de outras pessoas e estimulando-se o hábito de doar.

Ainda de acordo com o levantamento, mais brasileiros confiam nas ONGs e as consideram necessárias para solucionar os problemas sociais e ambientais. A noção de que elas são necessárias no combate aos problemas socioambientais recebe a adesão de 74% da população, enquanto em 2015 essa aceitação estava em 57%.

O reconhecimento de que as ONGs fazem um trabalho competente é indicado por 60% da população, bem acima do registrado na primeira edição da pesquisa em 2015, quando 44% pensavam desse modo.

A diferença é ainda maior entre as pessoas que disseram confiar nas ONGs, uma vez que 45% da população concordam que as ONGs deixam claro o que fazem com os recursos que aplicam. Em 2015, apenas 28% se mostravam de acordo com essa afirmação.

A íntegra da publicação pode ser baixada em: bit.ly/doacaobr2020.

Por: Luciano Guimarães

Fonte: filantropia.ong

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