Cientistas da Universidade College London, no Reino Unido, descobriram que aquela soneca depois do almoço pode ser muito benéfica para o nosso cérebro, evitando doenças e até retardar o envelhecimento de 3 a 6 anos. No Brasil, o Instituto do Sono realiza a Semana de Conscientização da Insônia
Tem gente que, sempre que tem a oportunidade, tira aquele cochilo durante o dia, outros já acham que dormir durante o dia é coisa de preguiçoso e seguem com suas atividades. No entanto, cientistas da Universidade College London, no Reino Unido, descobriram que aquela soneca depois do almoço pode ser muito benéfica para o nosso cérebro, evitando doenças e até retardar o envelhecimento de 3 a 6 anos.
A equipe mostrou que os cérebros dos indivíduos que cochilam regularmente é 15 centímetros cúbicos maiores — o que é equivalente a retardar o envelhecimento entre três e seis anos.
No entanto, os cientistas recomendam manter o tempo de soneca em menos de meia hora por dia.
“Estamos sugerindo que todos poderiam experimentar algum benefício com a soneca”, diz a psicóloga Victoria Garfield. Ela descreveu as descobertas como “bem novas e emocionantes”.
Garfield diz que iniciar esse hábito de dormir alguns minutos é “algo muito fácil” de fazer em comparação com esforços para perder peso e fazer exercícios físicos, que são “difíceis para muitas pessoas”.
O cérebro encolhe naturalmente com a idade. Agora, os cientistas querem entender se os cochilos podem ajudar a prevenir doenças como o Alzheimer. Esse é um assunto que ainda carece de mais pesquisas.
A saúde geral do cérebro é importante para nos proteger contra a demência. Essa condição, marcada por falhas de memória e raciocínio, está ligada a perturbações no sono. Os pesquisadores sugerem que a baixa qualidade do descanso noturno danifica o cérebro ao longo do tempo, causando inflamação e afetando as conexões entre as células nervosas.
“Assim, cochilar regularmente pode proteger contra a neurodegeneração e compensar o sono deficiente”, avalia a pesquisadora Valentina Paz.
Os pesquisadores resolveram testar uma técnica diferente para provar que o cochilho pode ser algo benéfico. Eles usaram um gigantesco experimento natural baseado no DNA — o código genético — com o qual nascemos. Estudos anteriores identificaram 97 trechos do genoma que nos tornam mais propensos a dormir ou a passar o dia acordados.
Assim, a equipe pegou dados de 35 mil pessoas de 40 a 69 anos, que participaram do projeto UK Biobank e simplesmente comparou a genética dos “cochiladores” e dos “despertos”.
Os resultados, publicados na revista Sleep Health, mostraram uma diferença de 15 centímetros cúbicos no tamanho do cérebro entre os grupos — o que equivale a uma variação de 2,6 a 6,5 anos de envelhecimento. O volume total médio da massa cinzenta foi de cerca de 1,4 mil centímetros cúbicos no estudo.
“Gosto de cochilos curtos nos fins de semana, e este estudo me convenceu que não devo me sentir preguiçosa ao fazer isso, pois posso até estar protegendo meu cérebro”, confessou a professora Tara Spires-Jones, da Universidade de Edimburgo e presidente da Associação Britânica de Neurociências.
Ela disse que o estudo traz descobertas “interessantes” ao mostrar um “aumento pequeno, mas significativo, no volume do cérebro” e “acrescenta dados que indicam a importância do sono para a saúde do cérebro”.
Para a maioria das pessoas é difícil dar a cochilada durante o dia, mas o sono da noite também é privado. Muitos não sabem que dormir bem é tão fundamental quanto comer comidas saudáveis e fazer exercícios físicos.
Dormir bem é tão importante para o ser humano que o Instituto do Sono, centro de referência mundial em pesquisa, diagnóstico e tratamento em distúrbios de sono, está promovendo a semana de conscientização da insônia.
O Instituto do Sono vai disseminar por 7 dias em suas redes sociais e na mídia informações para ajudar o brasileiro a enfrentar este distúrbio de sono. É a Semana de Conscientização da Insônia.
A biomédica Monica Andersen, Diretora de Ensino e Pesquisa do Instituto do Sono, ensina que a insônia se caracteriza pela dificuldade de o indivíduo iniciar ou manter o sono ou acordar de maneira precoce pela manhã. “Este distúrbio de sono tem um grande impacto sobre a vida das pessoas, porque provoca sonolência diurna excessiva, irritabilidade, agressividade, desatenção, falta de memória, fadiga, baixa produtividade profissional e rendimento escolar”, esclarece.
A insônia é considerada crônica quando ocorre pelo menos 3 dias por semana ou por mais de 3 meses. Em alguns casos, pode ser sintoma de uma doença, como ansiedade e depressão. “Nessas circunstâncias, a insônia e o transtorno mental devem ser tratados simultaneamente por um especialista em Medicina do Sono e um psiquiatra”, explica a neurologista Dalva Poyares, médica do Instituto do Sono.
A terapia cognitivo comportamental é um tratamento para insônia considerado de primeira linha. Trata-se de uma técnica, aplicada por especialistas, que tem como base a higiene do sono, um conjunto de práticas que preparam o organismo para dormir.
Na Semana de Conscientização da Insônia, Monica Andersen e Dalva Poyares dão algumas dicas para ajudar o brasileiro a dormir melhor. Confira:
Mantenha uma rotina – estabeleça horários para o sono, alimentação, exercícios físicos, lazer, trabalho e atividades com a família.
- Fique longe do notebook ou do celular antes de dormir – O excesso de interatividade e a luz das telas desses aparelhos atrapalham o sono.
- Não leve o estresse para a cama – o quarto deve ser um ambiente agradável para permitir uma boa noite de sono. Não utilize a cama para estudar ou trabalhar. Também evite situações que podem desencadear raiva ou tristeza como discussões perto do horário de dormir.
- Evite alimentos pesados e bebidas com cafeína – faça refeições leves até 2 horas antes de deitar. Não tome café, energéticos e chá preto e outras infusões que contêm cafeína à noite.
- Pratique atividades relaxantes no período noturno – o controle da respiração e as técnicas de relaxamento são grandes aliados para garantir o descanso.
- Esvazie a mente antes de dormir – preocupações com compromissos podem impactar seu sono. Certifique-se de escrever numa agenda suas tarefas, planejar seus horários e estabelecer prioridades. Desta maneira, é possível “esvaziar a mente” antes de dormir.
O Instituto do Sono foi fundado em 1992 pelo Professor Sergio Tufik, é formado atualmente por mais de 100 colaboradores, entre eles médicos de diversas especialidades, técnicos, psicólogos, biólogos, biomédicos, dentistas, assistentes sociais, enfermeiras, fisioterapeutas, educadores físicos e pesquisadores. Além do atendimento à população, conta com uma área de educação continuada que já capacitou mais de 4.000 profissionais de saúde.
O Instituto do Sono faz parte da AFIP (Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa), uma instituição privada, sem fins lucrativos e filantrópica, fundada por profissionais da área da saúde, professores universitários e pesquisadores há mais de 40 anos. Seu objetivo é fornecer suporte financeiro para atividades de docência, pesquisa científica e atendimento médico à população. Para conhecer melhor seu trabalho clique aqui.
Por: Maria Fernanda Garcia
Fonte: BBC Brasil / observatorio3setor.org.br