Ação da Cidadania lança campanha “Brasil sem Fome” em todo o país

Campanha ressalta a importância da boa alimentação na infância para o desenvolvimento humano e educacional; a Ação da Cidadania recebe apoio do Movimento Bem Maior, Pacto Global da ONU e do Programa Mundial de Alimentos

No Brasil, ao menos 32 milhões de meninas e meninos vivem na pobreza. Ou seja, milhares de crianças não têm o que comer. E para que no futuro a fome seja passado, a Ação da Cidadania lançou em 17/05, pelo terceiro ano consecutivo, a campanha “Brasil sem Fome”; o objetivo é arrecadar e distribuir alimentos para famílias em todo o país como forma de assegurar o direito à alimentação adequada, principalmente na primeira infância.

“Betinho já dizia que a democracia é incompatível com a miséria. Enquanto houver o desafio de superar a fome no país, não há como garantir que outros direitos sejam cumpridos. Se um cérebro saudável usa 20% da energia do corpo e essa energia vem dos alimentos, como uma criança com fome será capaz de aprender e ter bom rendimento escolar? Um corpo funciona em sua plenitude quando está nutrido. E o crescimento saudável só é possível com um Brasil sem fome”, ressalta Rodrigo “Kiko” Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania.

O aumento da insegurança alimentar também é impactado por outros fatores que não apenas a comida, mas também gênero, raça e cor, escolaridade, renda, tipo de ocupação e emprego, principalmente dos responsáveis pelos domicílios. O desemprego e a falta de moradia, agravados pelos recentes cortes de investimentos e desmontes de políticas públicas, também impactaram na qualidade de vida de crianças e adolescentes. Não é incomum que elas tenham o aprendizado educacional prejudicado por ter ficado doente, pela falta de concentração na sala de aula ou até mesmo por ter deixado a escola para ajudar a família a colocar comida na mesa.

Em recente pesquisa divulgada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), em parceria com a Ação da Cidadania, revelou que a fome no país dobrou nas famílias com crianças menores de 10 anos e hoje está presente em 18,1% das casas com moradores dessa faixa etária. Em 37,8% das casas brasileiras onde moram crianças menores de 10 anos, há insegurança alimentar grave ou moderada. Esse percentual é maior do que a média nacional, quando consideramos todos os domicílios. A situação é ainda mais grave no Norte, onde 40% das casas com moradores nesta faixa de idade sofrem com a falta de comida, e no Nordeste, onde famílias de 7 dos 9 estados também passam por situações parecidas.

Outro dado alarmante aponta que, todos os dias, em média, 11 crianças menores de 5 anos são internadas por desnutrição no Brasil, a maior média desde 2012, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), com base em dados obtidos através do Ministério da Saúde. A região Nordeste concentra 36% dos casos, superando os demais estados do país.

“A falta de dinheiro para comprar alimentos e a diminuição da qualidade do que é consumido são fatores que confirmam a desigualdade social. Ainda que mães e pais deixem de comer ou tenham a alimentação reduzida para que os filhos sejam beneficiados, a associação entre desenvolvimento infantil e efeitos da nutrição irregular podem resultar em menor escolaridade e, consequentemente, menos oportunidades de trabalho, menor produtividade e salários mais baixos. Deixar que a fome impeça a realização de sonhos é uma violação da dignidade humana”, reitera Kiko.

O consumo de alimentos ultraprocessados, com resíduos de agrotóxicos e pobres nutricionalmente, com excesso de açúcar e farinha, tem sido outro problema entre a população pediátrica, devido ao aumento de casos de sobrepeso/obesidade e a diminuição da proporção de crianças eutróficas. Devido ao baixo custo e facilidade de acesso, esses itens têm substituído cada vez mais a chamada ‘comida de verdade’. E as crianças, inevitavelmente, continuam sendo as mais prejudicadas.

“Sendo o Brasil um dos maiores produtores de alimentos do mundo, é inaceitável que 33 milhões de pessoas passem fome, enquanto outras lucram com o agronegócio, por exemplo. A gente já mostrou uma vez que é possível sair do Mapa da Fome. Precisamos assumir novamente esse compromisso, para que a futura geração do nosso país seja referência na medicina, no esporte, na ciência e na garantia do direito humano”, finaliza.

Com apoio do Movimento Bem Maior, Pacto Global da ONU e do Programa Mundial de Alimentos, o Brasil sem Fome foi lançado pela primeira vez em 2002, retornando em 2021, durante a pandemia do Coronavírus, quando foram doadas mais de 20 mil toneladas de alimentos em todo o país. As doações devem ser feitas no site www.brasilsemfome.org.br ou pelo PIX: doe@acaodacidadania.org.br.

Fundada em 24 de abril de 1993, pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, a Ação da Cidadania completou 30 anos. Nessas três décadas, a organização já atendeu mais de 26 milhões de pessoas e distribuiu 55 milhões de quilos de alimentos, além de gás de cozinha, eletrodomésticos, livros, brinquedos, roupas, materiais de higiene e limpeza e ferramentas para plantio, além de ter atuado na reconstrução de casas.

Alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a campanha contribui para alcançar os ODS da 02, 03, 04 e 10 da Agenda 2030, que dizem respeito à fome zero e agricultura sustentável; saúde e bem estar; educação de qualidade e redução das desigualdades.

Por: Redação / Observatório 3º Setor

Fonte: observatorio3setor.org.br

//]]>