A importância da profissionalização para o crescimento das OSCs

Com doadores cada vez mais exigentes, OSCs precisam mostrar que são efetivas em suas causas.

O advogado Guilherme Reis, da Lima&Reis Sociedade de Advogados, falou sobre questões como a importância de remunerar dirigentes – foto: Josilene Rocha

Foi-se o tempo em que apenas boa vontade era suficiente para manter uma organização do Terceiro Setor de pé. Se é que esse tempo realmente existiu. Cada vez mais, as pessoas querem ter certeza de que a instituição está sendo administrada de maneira ética e eficiente, certeza de que o dinheiro delas não está sendo desperdiçado. Isso exige profissionalização por parte das organizações.

Para garantir a sustentabilidade financeira e a credibilidade, as organizações da sociedade civil (OSCs) precisam de profissionais de diferentes áreas e de objetivos muito claros. Foi sobre essas duas necessidades que o Giro Filantropia São Paulo 2019 aprofundou-se.

Com palestras sobre áreas como captação de recursos, direito e contabilidade, o evento promovido pela Rede Filantropia, no dia 24 de julho, deixou como principal mensagem para os participantes a urgência de profissionalizar as OSCs, para mantê-las vivas e fortalecê-las.

Qual o seu objetivo?

Para o empreendedor social Michel Freller, o primeiro passo para planejar qualquer tipo de ação é definir objetivos claros – Foto: Josilene Rocha

De acordo com o empreendedor social Michel Freller, o primeiro passo para planejar o futuro da sua organização e tomar decisões deve ser sempre ter objetivos muito claros. Para que a sua organização existe? Qual a contribuição que ela pretende dar para a causa?

Só com esses objetivos em mente será possível estabelecer metas para o curto, médio e longo prazo, e não se perderá no meio do caminho.

Outra palestrante que falou sobre a importância de ter essa clareza em mente foi a filósofa Carol Zanoti, que atua há mais de 25 anos na área social. De acordo com ela, quando o profissional esquece qual o objetivo da organização e por que ela existe, ele corre o risco de virar apenas um “fazedor de coisas”, o que pode prejudicar de forma grave os resultados da organização.

Um dos riscos trazidos pelo “fazedor de coisas” é a realização de diagnósticos superficiais, incapazes de representar a realidade do território em que o projeto está sendo implantado. Isso pode levar a metas que não façam tanto sentido para aquela realidade ou que não vão contribuir efetivamente para a causa.

Qual a sua causa?

A filósofa Carol Zanoti falou sobre a importância de não se tornar apenas um “fazedor de coisas” – Foto: Josilene Rocha

Outro ponto destacado por Carol Zanoti é que muitas OSCs confundem causa com público-alvo. “Causa é a situação que comove, é a finalidade. É algo contextualizado”, explica.

Para exemplificar, ela falou da causa da assistência social no Brasil: “fortalecer vínculos e convivência”.

De acordo com a especialista, é fundamental ter muita clareza da causa da organização, já que os objetivos devem ser pensados a partir dela.

O advogado Danilo Tiisel também falou sobre causas e sobre a importância da “educação pela causa”, isto é, de a sua organização não falar apenas dela mesma, mas também da causa. É preciso mostrar para as pessoas o problema e como elas podem amenizá-lo.

Quem está no seu time?

Um dos pontos abordados em diversos momentos do evento foi a importância de investir em profissionais de diferentes áreas e na capacitação de voluntários.

Em sua fala, Silvia Naccache destacou a importância de preparar os voluntários e de dar constante feedback a eles – Foto: Josilene Rocha

Isso não significa que todos os profissionais precisam trabalhar diariamente na sua organização. É possível ter prestadores de serviços em áreas como direito e contabilidade, mas é fundamental que sejam profissionais com experiência em Terceiro Setor e que a gestão da organização esteja sempre em contato com eles – principalmente no caso do contador.

Para o advogado Guilherme Reis, é fundamental que as OSCs tenham uma gestão nos moldes empresariais. Isso inclui ter profissionais capacitados e uma diretoria remunerada, para que os diretores tenham condições práticas de dedicarem tempo à organização. “Se você quer que o diretor se dedique à organização, é preciso que ele possa sobreviver disso. A lei permite a remuneração de dirigentes”, enfatizou.

No caso dos voluntários, a consultora Silvia Naccache, que coordenou por 14 anos o Centro de Voluntariado de São Paulo, destacou que é fundamental oferecer capacitação. “Antes de desempenharem qualquer função, os voluntários precisam ser orientados, precisam entender o que se espera deles e como funciona a organização”, explicou.

Onde estão os recursos?

Segundo Michel Freller, existem, basicamente, quatro fontes de recursos: fontes institucionais, como órgãos da administração pública; fundações; iniciativa privada, o que inclui pessoas físicas e empresas; e organizações religiosas.

Para captar com cada uma dessas fontes, existem algumas estratégias possíveis. As três principais são: por projeto, apoiadores da causa e geração de renda própria. E cada uma delas está dividida em várias estratégias secundárias (a tabela completa pode ser acessada aqui).

Para Danilo Tiisel, uma das vantagens de diversificar fontes de financiamento é garantir maior independência da organização – Foto: Josilene Rocha

Quanto mais a organização diversifica as fontes de financiamento e as estratégias de captação, maiores as chances de garantir sustentabilidade financeira. De acordo com o especialista, algumas OSCs conseguem usar até 10 estratégias de captação secundárias.

Danilo Tiisel também falou sobre a importância de diversificar as fontes e estratégias de captação: “isso gera menor risco e aumenta a legitimidade social da sua organização”.

Para ele, o fato de ter diferentes tipos de apoiadores garante não só maior tranquilidade financeira, mas também maior independência.

Para quem você presta contas?

O contador Warley Dias falou da importância de as OSCs aplicarem os quatro princípios básicos da governança corporativa: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. E de todos esses princípios serem pensados de forma ampla.

O contador Warley Dias indica que organizações façam reuniões mensais com seus contadores – Foto: Josilene Rocha

Não basta dizer o que a sua organização está fazendo apenas para um órgão público com o qual se mantém parceria ou para grandes doadores. É preciso ser transparente com a sociedade como um todo. Para isso, ele recomenda disponibilizar todas as informações possíveis, incluindo financeiras, no site da organização.

“Quando você presta contas para a prefeitura e não presta para voluntários, por exemplo, você não está os tratando de forma igual”, pontuou.

O contador também chamou a atenção para a necessidade de fazer da prestação de contas um hábito e não algo em que se pensa apenas uma vez por ano. Para isso, é indispensável estar sempre em contato com os responsáveis pela contabilidade da organização.

“A contabilidade é fundamental para dar transparência à organização, e isso leva à credibilidade”, destacou.

O evento

O Giro Filantropia é um seminário itinerante que percorre diversas cidades do país. A cada mês, ele é realizado em uma cidade diferente.

A edição de julho deste ano foi na capital paulista e as próximas edições serão em Salvador (BA), Uberlândia (MG), Sorocaba (SP), Fortaleza (CE) e Joinville (SC).

Para conferir os detalhes sobre as próximas edições do seminário, acesse filantropia.ong/capacitacoes/giro.

Por: Josilene Rocha

Fonte: observatorio3setor.org.br

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