Transição de patrimônio é missão para family office brasileiro

“Pensar criticamente sobre o que a gente faz”. É assim que Camila Haddad, diretora executiva da Próspera Social, fundada em 2020, define uma das ações que norteia o serviço prestado pela entidade que atua como family office (escritório de gestão familiar) no Brasil. 

As falas foram proferidas durante o 4º episódio da temporada da série de podcast “Grantmaking”, produzido pelo GIFE. O programa entrevista filantropas e filantropos em um diálogo sobre atuação, reflexões e desafios do setor. 

A conversa, conduzida por Carola M.B. Matarazzo, do Movimento Bem Maior, debateu quais os caminhos possíveis para que a filantropia esteja amplamente engajada com a mitigação das desigualdades abissais que atravessam o Brasil. Nesse sentido, Camila Haddad conta sua trajetória na busca por soluções e como isso culminou na criação da Próspera Social, que se apresenta como uma organização “pautada na economia do bem-viver”. 

“O surgimento da Próspera vem da vontade de ressignificar a história de acumulação do legado familiar (…) Olhar para todos os desconfortos (…) por estar sentada em privilégios de classe e raça, olhar isso de frente e pensar em uma forma de ressignificar”, destaca. “Talvez, a [nossa] diferença da maior parte dos familys offices que a gente conhece é não ter um olhar para permanência e preservação do patrimônio, temos um olhar para a transição.” 

Natural de Campo Grande (MS) e formada em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, Camila Haddad explica que os incômodos que lhe levaram a querer fazer parte das soluções sociais teve início ao se mudar para São Paulo. Além disso, as experiências profissionais, como a passagem pela Artemísia, e o contato com autores decoloniais foram lhe munindo de coragem e conhecimento para criar um projeto que questiona a distribuição de poder e defende a distribuição de produção.  

“O bem-viver é nosso horizonte utópico, que é falar de modelos ou sistemas econômicos que tenham como premissa a interdependência de todas as espécies – não falamos da natureza enquanto recurso -, e também a prosperidade coletiva e não individual”, detalha a diretora.  “A gente procura nos investimentos sempre ter esse olhar de como a gente está permitindo a autonomia das comunidades que a gente está investindo, não estou criando uma nova forma de acumular capital que é mais bonitinha, estou falando em como apoiar a mudança dessa lógica”, completa. 

Desta forma, na busca por uma filantropia decolonial e comprometida com o bem estar e independência das organizações da sociedade civil, Camila Haddad reforça o papel do respeito e confiança. “Eu não vou usar minha doação como mecanismo para dizer onde eu quero que essa organização vá (…) É o contrário, a gente aprende com quem está fazendo na ponta.” 

Fonte: gife.org.br

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