Notícias e mensagens falsas circulam diariamente nas redes sociais, e com as queimadas no Pantanal não é diferente.
Você deve estar se perguntando: é verdade que o bioma se queima sozinho? Os incêndios na região são algo natural e acontecem todos os anos? Para combater as #fakenews, o WWF-Brasil responde algumas dessas dúvidas, baseadas na ciência e em dados oficiais sobre o bioma.
Notícias e mensagens falsas circulam diariamente nas redes sociais, e com as queimadas no Pantanal não é diferente. Você deve estar se perguntando: é verdade que o bioma se queima sozinho? Os incêndios na região são algo natural e acontecem todos os anos? Para combater as #fakenews, o WWF-Brasil responde algumas dessas dúvidas, baseadas na ciência e em dados oficiais sobre o bioma.
É importante esclarecer que o Pantanal está enfrentando desde 2019 o período mais seco das últimas quatro décadas, reflexo da emergência climática associada ao desmatamento nas cabeceiras dos rios que banham o bioma. Desde o início deste ano, especialistas já alertavam que haveria uma seca severa, com alta probabilidade de incêndios descontrolados e escassez de água. “As queimadas no Pantanal não afetam apenas a biodiversidade e a população local, mas o país e o mundo, que estão perdendo a maior área úmida do planeta. Estamos com cenário crítico e com áreas maiores que as queimadas registradas em 2020”, declara Cyntia Santos, analista de conservação do WWF-Brasil.
Mitos e verdades
Os incêndios deste ano fazem parte da dinâmica natural do Pantanal?
Não. Os incêndios que estão atingindo a região, este ano, não têm relação com o processo natural do bioma. No primeiro semestre deste ano, o Pantanal bateu recordes de queimadas. Entre 1 de janeiro de 30 de junho foram detectados 3.538 focos de queimadas, um número mais de 20 vezes acima que o registrado no mesmo período no ano passado (+2.018%), sendo o maior número da série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), iniciada em 1998. Os números oficiais apontam que as atuais queimadas no bioma estão completamente fora do padrão da dinâmica natural do fogo no bioma.
O fogo faz parte da dinâmica do Pantanal, que tem ciclos naturais de cheias e secas, quando ocorre na época certa. Com o emprego de técnicas adequadas e seguras, o manejo controlado do fogo é aliado a diversos processos naturais, incluindo a quebra de dormência das sementes. Não é o que estamos vendo este ano.
As queimadas no Pantanal deste ano são de origem criminosa?
É possível que uma parte dos focos seja mesmo provocada por criminosos, mas as causas estão em investigação e ainda não é possível definir. Essa hipótese está sendo investigada por autoridades policiais com base em informações enviadas por órgãos ambientais, como o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O clima seco favorece o surgimento de novos focos na hora da lida no campo?
As condições climáticas produziram uma seca severa no Pantanal, que favorece o alastramento do fogo, mas não necessariamente seu início. Ou seja, queimadas controladas para manejo, para pasto ou para qualquer cultivo, muitas vezes fogem do controle, transformando-se em incêndios de grandes proporções. Parte dos incêndios deve ser decorrente de uma perda de controle acidental do fogo, durante o manejo feito por moradores locais.
Além das mudanças climáticas, as queimadas no Pantanal também estão associadas à ação humana na Bacia do Alto Paraguai (BAP). O desmatamento onde estão as cabeceiras dos rios que abastecem a Planície Pantaneira contribui para a seca extrema no bioma. Todos esses elementos afetam diretamente o ciclo de chuvas e a redução de água no território, favorecendo o alastramento do fogo no Pantanal em 2024.
De acordo com especialistas, o Pantanal vive uma seca severa e as chuvas escassas e irregulares nos primeiros meses de 2024 foram insuficientes para transbordar os rios e conectar lagoas e o Rio Paraguai, o principal do bioma, atingido níveis baixos para esta época do ano. Essa combinação de fatores têm colaborado para o aumento das queimadas no Pantanal.
O fogo no Pantanal pode reacender mesmo 15 dias depois de ter sido combatido?
Sim. Trata-se do fenômeno que os pantaneiros chamam de “fogo subterrâneo”, ou “incêndio de turfa”. A turfa é um tipo de material orgânico resultante da decomposição da vegetação que se acumula no solo, formando uma camada de material inflamável.
É verdade que 95% do fogo está localizado em áreas privadas?
Sim. Segundo imagens via satélite feitas pelo BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ), cerca de 95% das queimadas no Pantanal, em 2024, tiveram origem em propriedades privadas, com um registro recorde de 3.372 focos de incêndio de 1º de janeiro até 25 de junho de 2024. Apenas 189 deles foram registrados em Terras Indígenas e Unidades de Conservação. E quase nenhum incêndio tem indício de ter sido iniciado por causas naturais, como raios, o que torna a ação humana o principal vetor do fogo.
A demora para acabar com as queimadas no Pantanal é culpa do Governo, que não agiu de forma eficaz?
Não. O governo mobilizou mais de 830 agentes federais, incluindo brigadistas e agentes da Força Nacional e das Forças Armadas. Há 15 aeronaves do Governo Federal envolvidas em operações de combate aos incêndios: 4 aviões e 3 helicópteros do Ibama e do ICMBio e 2 aviões e 6 helicópteros das Forças Armadas.
Em abril, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) declarou estado de emergência ambiental por risco de incêndios em regiões específicas, incluindo o Pantanal, de maio a dezembro. No mês de junho, o governo teve forte atuação com: a assinatura do presidente Lula no pacto com governadores para o combate a incêndios no Pantanal e Amazônia; a criação da sala de situação para tratar sobre a seca e o combate a incêndios no país, especialmente no Pantanal e na Amazônia; e a liberação de R$ 100 milhões para ações do Ibama e do ICMBio no bioma. Além disso, o MMA montou duas bases, uma em Corumbá, e outra na altura do quilômetro 100 da Rodovia Transpantaneira, para abrigar equipes, concentrar as ações logísticas e realizar o monitoramento e acompanhamento dos focos de incêndio.
O governo do estado de Mato Grosso do Sul também reconheceu emergência em municípios afetados pelas queimadas na região, o que facilita a liberação de recursos e flexibiliza contratações públicas para compra de equipamentos, mobilização de equipes e outras ações de enfrentamento à crise.
Porém é importante lembrar que condições climáticas e meteorológicas anteciparam a temporada de seca este ano, a qual também deve terminar mais tarde, gerando um descasamento com o cronograma de ações previsto pelos governos federal e estaduais, que precisam antecipar o que estava previsto em virtude da eclosão precoce da temporada de fogo.
Fonte: observatorio3setor.org.br