Terceiro setor discute o papel do investimento social no combate à desigualdade racial

Pessoas pretas e pardas enfrentam um alto nível de desigualdade racial em diversos âmbitos da sociedade. 70% das pessoas que passam fome no Brasil e quase 65% dos desempregados são negros. Quando se trata da comunidade preta, a representatividade no parlamento é baixa, o salário é menor do que o de pessoas brancas em algumas profissões e os índices de violência são altíssimos.

Diante desse cenário, a 12ª edição do Congresso GIFE reuniu representantes do governo, de instituições do terceiro setor e do movimento negro para responder à pergunta: o investimento social está pronto para promover equidade racial?

Para Douglas Belchior, fundador da Uneafro, o Brasil precisa se atentar à necessidade de criar medidas que garantam a equidade racial a longo prazo, e o investimento social pode contribuir para esse objetivo. “Quanto tempo vai durar a ‘onda’ de investimentos na agenda racial? O setor privado pode influenciar e fortalecer ações do governo e terceiro setor”.

Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco, destacou que a cada 100 meninos negros que ingressam no ensino médio, somente 53 o finalizam, e questionou se o compromisso com a agenda racial no Brasil é temporário ou permanente. “Quando você começa a gerar mobilidade social, as expectativas são de melhorar os avanços. Seguimos ainda muito encapsulados e corremos o risco de não aprofundar o assunto, ficar na onda”.

Ainda durante a plenária, o diretor executivo no Fundo Baobá para a Equidade Racial, Giovanni Harvey, explicou que há uma tendência de pessoas brancas, doadoras, interferirem no movimento negro, decidindo quais organizações e projetos merecem investimento. “O movimento negro serviu para construir a visibilidade da causa, mas não serve pra ditar os critérios de como realizar a transformação”.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também participou do debate e destacou: “A política que tem que mudar para nos receber”. Para Anielle, que atuou em movimentos sociais, um dos principais fatores da falta de recursos é a ausência de acesso à educação formal e à qualificação profissional das pessoas por trás das iniciativas. “Muitas vezes quando a gente precisava responder um relatório ou pedia acesso a algum tipo de auxílio para a organização, era tudo em inglês. Somente 5% a 10% da população negra fala inglês”.

“Se não tivermos políticas públicas eficazes e não conseguirmos garantir que as organizações da sociedade civil abram as portas para movimentos de favela, periferias e comunidades, não vamos olhar e falar: agora o país andou para uma direção democraticamente mais humanizada”, disse a ministra.

Por: Ana Clara Godoi

Fonte: observatorio3setor.org.br

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