De acordo com estimativas recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 205 mil moradores de Campinas têm algum tipo de deficiência visual. A ausência de acessibilidade e tecnologia assistiva em espaços públicos e privados, como pisos táteis ou preços de mercadorias e cardápios em braile, atrapalha a rotina das pessoas cegas ou com baixa visão, afastando-as de círculos sociais, oportunidades de trabalho e momentos de lazer.
Segundo o diretor técnico do Centro Cultural Louis Braille de Campinas (CCLBC), Benedito João Bertola, por mais que a cidade avance em acessibilidade, ainda falta fiscalização para que as leis sejam cumpridas. Para ele, que é deficiente visual, o principal obstáculo é o preconceito. “A maior barreira ainda é o preconceito, que é a barreira atitudinal. Já existem leis para as barreiras arquitetônica e comunicacional, porém elas ainda precisam ser mais divulgadas e executadas”, diz.
FEAC apoia projetos para pessoas com deficiência visual
Em 2021, o CCLBC e a Fundação FEAC se uniram para o projeto Acessibilidade em Movimento, que buscou aproximar pessoas com deficiência visual aos territórios em que vivem e levar discussões de acessibilidade e inclusão a estabelecimentos comerciais, como lojas, bares e mercados. O resultado foi positivo: diversos espaços solicitaram cursos de capacitação à instituição.
Esta não é a única ação da FEAC com o intuito de promover inclusão. A instituição é parceira de algumas organizações da sociedade civil (OSC) de Campinas, por meio do Programa Mobilização para Autonomia, que atuam em prol da acessibilidade, autonomia e bem-estar de pessoas com deficiência (conheça outros projetos no final deste texto).
“A FEAC investe em projetos que visam o desenvolvimento de redes de apoio e a implementação de ferramentas de acessibilidade para a eliminação de barreiras, e contribui com o processo de autonomia das pessoas com deficiência”, diz Viviane Machado, coordenadora do Programa Mobilização para Autonomia.
Prática esportiva com acessibilidade
Em dezembro do ano passado, o Centro Cultural Louis Braille deu início ao projeto Esporte em Rede. Seu objetivo é promover a inclusão social de pessoas com deficiência visual em novos territórios por meio de práticas esportivas aquáticas, como a natação e a hidroginástica. Com o apoio da FEAC, o projeto é realizado em parceria com o Instituto Campineiro dos Cegos Trabalhadores (ICCT) e a Associação Paraolímpica de Campinas (APC).
As atividades acontecem na PUC-Campinas, que disponibilizou a área com piscina, academia e os equipamentos necessários. O prédio possui acessibilidade para receber pessoas com deficiência como bebedouros com placas em braile, elevador para pessoas em cadeira de rodas ou mobilidade reduzida, piso tátil e rampa com acesso à piscina.
Antes de o aluno entrar em alguma das duas modalidades, ele precisa passar pelas aulas de Orientação e Mobilidade (OM) com o auxílio da bengala para fazer o reconhecimento espacial do lugar onde acontecem as aulas práticas.
Fernanda Gisele de Oliveira, coordenadora do Esporte em Rede e assistente social do CCLBC, diz que essa etapa do projeto é essencial para que eles desenvolvam autonomia: “Nós queremos estimular a autonomia, e para isso eles precisam trabalhar a orientação e a mobilidade, pois dessa forma serão capazes de identificar os espaços e se situar”, diz Fernanda.
Apesar de ser voltado exclusivamente às pessoas com deficiência visual, o projeto consegue acolher pessoas com múltiplas deficiências e formar um grupo diverso. Atualmente, uma aluna surdocega faz aulas de natação, e outras pessoas, algumas com mobilidade reduzida, vão se juntar a ela. A equipe também está analisando a possibilidade de formar um grupo de crianças.
O projeto será lançado oficialmente em um evento na PUC-Campinas Campus I no dia 28/2. Para mais informações, acompanhe a Fundação FEAC nas redes sociais.
Projetos que promovem inclusão
Além do Esporte em Rede, a Fundação FEAC apoia outros projetos focados na inclusão de pessoas com deficiência na sociedade por meio da acessibilidade no município de Campinas. Conheça:
- Inter(agindo) com o mundo – Realizado pelo Centro de Apoio e Integração do Surdocego e Múltiplo Deficiente (CAIS), o projeto estimula surdocegos a desenvolverem uma segunda forma de se comunicar para se readaptarem e expandirem seu repertório. Conheça o projeto.
- Em construção – Tem como objetivo assegurar que pessoas com deficiência tenham acesso aos seus direitos. São feitas assessorias para pessoas com deficiência que participam de grupos minoritários e OSC que buscam qualificar o atendimento a esse público. O projeto é organizado pelo Centro Educacional Integrado (CEI) e realizado na Biblioteca Pública Distrital de Sousas Guilherme de Almeida.
- EqualiEJA – Desenvolvido pela Associação de Educação do Homem de Amanhã (AEDHA), mais conhecida como Guardinha Campinas, em parceria com o Sesi-SP, o projeto oferece aulas de formação escolar para jovens e adultos com deficiência. A metodologia e o material do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) foram adaptados para atender cada deficiência.
O que é tecnologia assistiva?
Tecnologia assistiva (TA) é o termo que se aplica a recursos e serviços que ampliam as habilidades de pessoas com deficiência para realizar atividades com autonomia e inclusão social. Os recursos são equipamentos que melhoram o potencial da pessoa com deficiência, como bengala, talher adaptado e sistemas de computador. Já os serviços são realizados por profissionais como terapeuta ocupacional, professor e arquiteto que desenvolvem e auxiliam o uso de um recurso de tecnologia assistiva.
Exemplos presentes no dia a dia de uma pessoa com deficiência incluem cadeiras de rodas manuais ou motorizadas, rampas, próteses, impressora de pontos braile, teclados modificados, vocalizador e sistema de controle de ambiente.
“O celular e o computador com sistema de voz são as ferramentas tecnológicas mais usadas pelos deficientes visuais. Existem vários programas gratuitos que hoje permitem que todos tenham acesso e autonomia”, diz Benedito.
Por: Pietra Bastos / Fundação FEAC
Fonte: gife.org.br