Crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social são os mais prejudicados em sua aprendizagem em razão dos efeitos do novo coronavírus, segundo pesquisa encomendada pela Fundação Lemann ao Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para o Brasil e a África Lusófona – organização vinculada à Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP Clear).
Na celebração mundial do Dia da Educação (28 de abril), o estudo mostrou que o custo das escolas fechadas para as crianças é altíssimo e a projeção é de estagnação pelos próximos quatro anos.
Um dos grandes obstáculos da pandemia tem sido o ensino remoto e o principal desafio, neste caso, é o da conectividade. Além dos impactos na aprendizagem, a perda de vínculo entre aluno e professor aumenta o risco de evasão escolar.
Para Camila Pereira, diretora de educação da Fundação Lemann, a pandemia explicitou e aprofundou desigualdades educacionais e sociais que já existiam.
“Nossa atuação junto à educação pública, principalmente durante a crise sanitária, tem se dado no sentido de apoiar redes e escolas no enfrentamento desses desafios. Ao longo de 2020, lideramos uma força-tarefa de mais de 20 organizações para ajudar a construir soluções que apoiassem professores, alunos e familiares. Com esses parceiros, viabilizamos, por exemplo, o Vamos Aprender, iniciativa do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) que leva, pela televisão, conteúdo pedagógico a crianças e adolescentes. Outro exemplo é a Plataforma de Apoio à Aprendizagem, cujo objetivo é reduzir as defasagens de aprendizagem causadas pela pandemia”, exemplifica.
Uma das ações apoiadas pela Fundação Lemann, a Plataforma de Apoio à Aprendizagem permite diagnosticar a aprendizagem dos alunos por meio de um processo avaliativo que pode apoiar professores na construção de planos de aula efetivos e ancorados na Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
“A plataforma funciona bem nesse momento de pandemia para quem está retomando aulas no modelo presencial ou híbrido. Ao disponibilizar uma avaliação diagnóstica, que pode ser aplicada pelo professor, a ferramenta permite identificar como os alunos estão em relação aos conhecimentos e habilidades esperados para cada etapa escolar”, explica a diretora.
Soluções inovadoras para a educação
A Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa (RBAC) é outro exemplo de iniciativa que atua para impulsionar a aprendizagem.
Aliando tecnologia ao brincar, a iniciativa promove ações criativas e práticas, compartilhando conhecimentos, ideias e experiências por meio de eventos, programas de fellowship, formações e divulgação e tradução de materiais.
A RBAC foi uma das três iniciativas internacionais selecionadas pelo Edital Tech and Play, da Fundação Lego, da Dinamarca.
“Estamos muito animados com esse reconhecimento. Apostamos muito em uma educação mais ‘mão na massa’, com metodologias ativas, engajadoras e centrada no aluno. Nos últimos dois anos, cerca de 20 mil professores participaram de formações ou eventos da RBAC, o que mostra o enorme interesse que o tema desperta entre esses profissionais. O desafio agora é conseguir promover a adoção sistêmica dessas práticas em redes públicas de ensino”, enfatiza Camila.
A Fundação Lemann prevê que, com o apoio da Fundação Lego, pelo menos 500 mil alunos de 20 redes públicas sejam impactados até 2024. Atualmente, estão empenhados no planejamento e na estruturação da equipe que vai liderar esse desafio. A previsão é que a iniciativa esteja nas escolas no segundo semestre de 2021.
Competências socioemocionais são importantes no desenvolvimento da aprendizagem
Outra organização que tem atuado para responder aos impactos da pandemia sobre a aprendizagem dos estudantes brasileiros é o Instituto Ayrton Senna.
Com base em evidências produzidas ao longo dos últimos dez anos, a organização escolheu trabalhar com foco nas competências socioemocionais.
“Somos um hub de informações, estratégias e práticas que podem apoiar educadores e outros profissionais da área no desenvolvimento dessas competências junto a crianças e adolescentes”, conta Fabiana Fragiácomo, head de comunicação e marketing do Instituto Ayrton Senna.
A organização lançou uma série de materiais de apoio, a exemplo do Guia de Gestão para Aprendizagem, que incentiva práticas pedagógicas eficientes. O documento se soma a outros materiais, trazendo uma visão holística de como o gestor escolar pode trabalhar, com base em planejamento e monitoramento de dados, estratégias para aprendizagem e recuperação, promovendo uma releitura das habilidades.
“O guia aborda questões relacionadas a revisão curricular e formulação de políticas. É quase um curso de gestão para aprendizagem, com estratégias e práticas com foco nos déficits causados pela pandemia e voltadas a professores e gestores educacionais” observa Fabiana.
O Instituto também lançou três guias temáticos sobre Criatividade e Pensamento Crítico, Educação Integral na Alfabetização e BNCC.
“Os guias foram uma forma que encontramos para consolidar e compilar uma série de informações e conhecimentos que devem ser disseminados entre educadores e gestores de forma simples e rápida, com o objetivo de alcançar o maior número possível de pessoas”, explica.
Pandemia, educação e investimento social privado
A educação é um dos temas mais caros ao investimento social privado (ISP), que possui atuação histórica na área, como mostra o Censo GIFE.
Por exigir flexibilidade, capacidade de resposta rápida, alocação de recursos e relacionamento com organizações com atuação nos territórios, a pandemia colocou o ISP como um dos principais setres para o enfrentamento da crise.
Pensando nisso, a Fundação Lemann criou um fundo emergencial, em parceria com a Imaginable Futures, para apoiar redes de ensino e organizações de todo o Brasil em ações relevantes em seus territórios.
No que se refere aos desafios projetados para os próximos anos, a Fundação escolheu trabalhar prioritariamente com educação pública.
Nesse sentido, ações de apoio à implementação da Base Nacional Comum Curricular e na direção de garantir a todas as escolas acesso à internet de alta velocidade podem contribuir de maneira perene para o fortalecimento das políticas públicas de educação.
“Precisamos garantir que mais brasileiros saiam da escola preparados para contribuir para um Brasil mais justo e desenvolvido. Nesse sentido, nossa visão passa necessariamente por escala. E só dá pra ter escala com política pública. Estamos sempre atentos e participando das discussões macro de políticas educacionais no âmbito do Congresso e dos governos federal, estaduais e municipais”, aponta Camila.
Por: Gife
Fonte: gife.org.br